Em novembro de 2010 Iago Martínez quijo abrir umha janela no CulturGal de Pontevedra e convocou umha série de cineastas para apresentarem a sua obra. Eu aproveitei para projectar a daquela inédita Eclipse. Na mesma jornada e na mesma sala Ángel Santos mostrou fragmentos da sua Adolescentes, rodada entre setembro e outubro e por aquel entom em processo de montage. Gostei do conceito, mas quando vim o primeiro plano chocou-me o tremer da cámara em mao (sempre tivem querência polos planos fixos): o projecto prestava-se para uns enquadres e composiçons elaborados desde umha cámara fixa no seu trípode. Assi lho comentei a Santos, que me respondeu que a ausência de trípode era umha escolha deliberada e igualitária: queria estar à altura das suas e dos seus retratados: se a gente nova que posa diante da cámara tem que aguantar estoicamente os dous minutos e meio que dura cada toma, tamém temos que sentir o aguante do cineasta mentres sujeita a cámara, as suas vacilaçons e a fortaleça do seu pulso (na realidade, o cineasta olha comodamente como o seu fotógrafo, Bertitxi, fai o esforço por el). Hoje, quando vejo a película rematada, nom podo concebê-la doutro jeito: efectivamente, a mobilidade da cámara é parte essencial da obra.
Adolescentes (2012, 63’) é 21 retratos de moços e moças que podem aparecer em solitário (como o primeiro e outros 4), em parelhas (como o derradeiro e outros 7), em trios (um par deles), quartetos (3), quintetos (2) ou septetos (o sétimo). Das 56 persoas retratadas 18 som mulheres e 38 homes. Cada plano dura dous minutos e meio e está separado do seguinte por celuloide branco e, nalgum caso, por images impressionadas que duram uns pouco fotogramas, tomas falsas e acidentais que Santos conserva bem para manter a integridade da bobina bem para conservar a textura original do celuloide. A película começa precisamente cumha destas tomas falsas, na que, brevemente, o retratado aparece recolhido por umha cámara rebelde que fai umha panorámica nom intencionada. De igual jeito o quarto plano começa cum subliminal contrapicado fixo das copas das árvores; e o seguinte cuns fotogramas abstractos.
Adolescentes é umha olhada directa e honesta à realidade, aos rapazes e raparigas e ao contexto urbano que os (des)acouga. A cámara abre-se ao mundo sem manipulaçom, curiosa e paciente como a dos Lumière e a de Warhol. Porém, a película tem um aquel de irreal e fantasmagórico que num princípio um nom sabe mui bem donde procede. Mas se prestamos atençom decataremo-nos de que é o som, e a sua ausência, o que nos desacouga. Santos nom conservou o som directo, senom que regressou com posterioridade aos mesmos espaços para gravar o ambiente sonoro, fidedigno ao espaço mas falso cos protagonistas. As e os retratados convivem pois cumha banda sonora que pertence às ruas e praças que habitam mas que nom lhes pertence, real e irreal ao mesmo tempo. Os débeis intentos de sincronizaçom (a música apagada dos auriculares no retrato 14, o repentino jorro da fonte no 12, umha pequena tos no 9) convivem cumha óbvia ausência sonora, situando a película num estranho limbo entre a realidade e a fantasmagoria.
Transiçom ao plano 4 de Adolescentes
O som, ademais, ajuda a estruturar os diferentes espaços nos que se reúne a juventude pontevedresa, essa meia dúzia de praças e galerias que se agrupam em secçons nom sempre facilmente identificáveis. Os retratos 11 e 12 estám claramente rodados no mesmo lugar: a fonte que cobra força tras a parelha de 11 reaparece subliminalmente num reflexo no cristal do bar de 12. Neste caso é o som do jorro o que nos chama a atençom sobre a sua presença visual. De igual jeito os planos 13, 14 e 15 pertencem à mesma seqüência: nos tres vemos, intuímos ou escoitamos a actividade de rapazes exercitando-se no monopatim, bem fora de campo bem em segundo termo. A mirada pendular do retratado do plano 13 cobra significado polo ruído dos monopatins, ruído que ao mesmo tempo ajuda a identificar as sombras reflectidas na polida pedra da fachada na que o moço se apoia. Há continuidade sonora co plano seguinte, no que vemos directamente, tras o retratado, os moços em monopatim. No plano 15, mais amplo, a parelha de retratados posa no meio da praça que serve de área esportiva. À direita podemos ver a fachada que servia de espelho dous planos atrás. E assi, pouco a pouco, com pequenos detalhes visuais e sonoros, podemos reconstruir a geografia urbana que emarca os retratos e que é à sua vez retratada.
Transiçom ao plano 17 de Adolescentes
A geografia urbana, pois, é tamém protagonista da película, através dos fundos da image, dos reflexos em fachadas e galerias, dos sons urbanos, da gente que passa por diante da cámara: o colectivo retratado nom está só senom que formam parte dum contexto e dumha sociedade. Os espaços, que tendem à permanência, arroupam e acolhem a mocidade retratada, por definiçom efémera. De feito, entre a rodage e a exibiçom os adolescentes retratados já deixárom de sê-lo (mas sempre o serám na película). É umha idade efémera imortalizada durantes esses tempos de espera em ruas e praças, essas juntanzas sem mais objectivo que o de estarem juntos ou como muito o de decidir “que fazemos hoje”. Som momentos de “nom fazer nada” igualmente efémeros, um fugitivo passar pola cidade que se encherá de novos moços e moças, sempre os mesmos e sempre cambiantes. A mesma cidade cambiará, por suposto, mais os seus ritmos som mais lentos. A actualidade política está indirectamente presente na camisola dum rapaz: “Noites abertas 2010” (plano 11), que alude à política juvenil do BNG, partido que governa o concelho.
Intuímos a inspiraçom de Andy Warhol, dos seus Screen Tests. Mas Santos evoca a sua obra por partida dobre no inesperado derradeiro retrato (essa “cançom desesperada” tras os “20 poemas de amor”): umha parelha heterosexual beija-se ante a cámara (e diante dum trinque de larpeiradas) num longo ósculo que lembra a Kiss. Mesmo o riso inicial da rapariga remete-nos aos sorrisos de Naomi Levine nos seus vários beijos na película de Warhol. Santos recupera, cum toque de humor, o áudio da cena, proveniente da tenda de chucherias: “¿Ya has probado? ¡Deliciosas palomitas!”
O uso de celuloide, material nobre analógico, choca fortemente cos hábitos digitais de criaçom de images dos próprios retratados; a duraçom e paciência das tomas contradize os usos de montage rápida das novas geraçons. É o passado olhando ao futuro.
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