por Alberte Pagán
Costa da Morte (Lois Patiño, 2013) começa cum plano poderoso e mui prometedor: antes de que a image se faga visível ouvimos, desde mui perto, a respiraçom dum home, e uns segundos despois um plano geral contradize agudamente as nossas expectativas: a figura humana, esse trabalhador a ponto de talar umha árvore e que esperávamos ver perto da cámara, apenas se distingue na paisage brumosa. Patiño sostém este plano distante para que a image perdure no tempo e na memória. Genial começo.
A continuaçom vem o título sobre negro e a película avança ao longo de duas jornadas, desde a escuridade antes do amanhecer (mariscadoras trabalhando com lanternas) até a escuridade da noite seguinte (festa e atracçons numha vila) na primeira; e, na segunda jeira, desde a brétema matutina (operários montando as aspas dum moinho) até as luzes dos pescadores faenando e o resplandor dum faro na noite que rimam cumhas cenas dum incêndio nocturno. Separando um dia do seguinte há umha seqüência na que a desembocadura dum rio se mostra em diferentes momentos e em diversos graus de assulagamento. E como coda retomamos images diurnas do mar rompendo contra os cantis e as mesmas mariscadoras do princípio seguem a falar entre elas, agora à luz do dia, pechando o círculo.
Gente trabalhando na paisage, a gente sem rosto mas com voz, distante na image mas cercá no som: madeireiros, mariscadoras, percebeiros, feirantes, caçadores, sacerdotes, pescadores, redeiras, técnicos eólicos... Nalguns momentos as respiraçons e os sons da carne convertem-se em conversas. E quando a palavra cobra vida, a película começa a esmorecer.
Em efeito, a língua é o ponto débil de Costa da Morte, o cavalo de Troia que consegue derrotar e anular os seus inicialmente esquisitos logros estéticos. De entre a dúzia de conversas recolhidas na película, a maioria transcorrem numha língua deturpada, às vezes directamente em castrapo, outras numha mistura e um vaivém entre galego e espanhol e espanhol e galego. Se Costa da Morte aspira a documentar umha bisbarra, devemos dar-lhe o mesmo valor documental em quanto ao som se refere? É realmente assi como fala a gente da Costa da Morte? Si e nom: nom é assi como falam entre eles e elas, mas si é assi como lhe falam ao forasteiro que vai ali veranear. (Outra cousa, e por outras causas, som as intervençons em espanhol dos poderes espanholizadores de sempre: o cura dizendo missa, a orquestra cantando em espanhol...)
E esse é o problema: que o que pretendia ser um retrato honesto dum país remata sendo umha postal costumista para turistas; o que podia ser umha carta de apresentaçom queda em apontamento pintoresquista; o que tinha elementos abondos para constituir-se em auto-retrato nom passa de caricatura. Porque as persoas entrevistadas (que nom tenhem porque coincidir coas que adivinhamos na pantalha: a maior parte dos diálogos estám gravados ou retocados em pós-produçom) nom se expressam ante um igual, nom lhe falam a um vizinho, senom a um forasteiro. É por isso que cámbiam de registro lingüístico e forçam a língua. A realidade, como na física quántica, é deformada pola mera presença deste observador foráneo. E esta é a razom pola que, suspeito, a película gosta mais fora que dentro do país.
O que poderia limitar-se a um problema lingüístico contágia-se ao resto da película e ao valor estético, ético e político de Costa da Morte, que remata sendo, desde jeito, umha visom deformada e deformante da realidade. As próprias opçons técnicas e estilísticas do cineasta redundam nesta falsidade. Quando se mantém o som directo (as redeiras, em parte; a subida ao monte Pindo) as persoas mantenhem nos seus diálogos um registro natural, com algumha habitual e desculpável incursom no castelhano, devida mais à realidade fortemente diglóssica deste país que à presença do realizador (perdido na distáncia, detrás da sua cámara). Quando o som é dobrado, e portanto gravado ante a que supomos é a presença directa de Patiño —quem semelha nom ser consciente da diglóssia existente—, os dialogantes caem no ridículo mais caricaturesco, como no caso dos pescadores que chegam a mencionar, literalmente, a “Cuesta de la Muerte”. Culpa da paisanage galega? Desde logo. Mas tamém culpa dum cineasta politicamente pouco sensível (ou, polo menos, isso é o que me transmite a película).
Como etnógrafos, nom podemos aspirar a recolher a riqueza dos mapuche usando o espanhol como língua de interlocuçom; nem o mundo espiritual dos aboriges australianos fazendo-os explicar-se em inglês (as suas cosmogonias só podem expressar-se na língua própria; qualquer intento de recolhermo-las na língua colonial resultará, quando menos, num empobrecimento dos conceitos e numha perda de sutileza). O etnógrafo precisa aprender a língua do sujeito a estudar (ou um mui bom intérprete); o turista nom. Se deixamos que um povo se expresse num idioma alheo (mais ainda se esse idioma é a língua imperial imposta), a expressom (nom só a forma senom tamém o contido) vai ser necessariamente defeituosa e distorsionada.
O feito de que Patiño seja castelhano-falante nom deveria ser impedimento. Castelhano-falante é Enciso, o que nom lhe impede fazer Arraianos (2012), na que há umha cena reveladora: o cineasta fai rezar ao cura em galego mentres umha velha freguesa repite a oraçom no único idioma no que lhe aprendérom a rezar, o castelhano. O venezolano Gustavo Balza é quem de rodar Doentes (2011) em galego, ao contrário que o mui galego Fernando Cortizo, que conserva o idioma unicamente no título da sua O apóstolo (2011). (E no entanto Albert Serra roda em catalám todas as suas películas sem nem sequer ter que perguntar-se pola língua a utilizar...) Todo isto retrata um país diglóssico até a enfermidade; mais diglóssico ainda quando nos adentramos no mundo do cinema.
Esta falha lingüística fai tremer o resto da construçom cinematográfica de Patiño. De igual jeito que se “falsifica” o som, o cineasta inclue um plano —umha rapa das bestas— que nom pertence à Costa da Morte. Filmada desde longe num enquadre picado de conjunto, esta nova “estampa” semelha ter o pintoresquismo como única razom de ser, seguindo a tradiçom de Jacinto Esteva em Lejos de los árboles (1970) ou a de Javier Aguirre em España insólita (1964), e longe de olhadas mais próximas (espacial e temporalmente) e sensíveis como a de David Castro em Mougás (2009).
E tamém saem malparadas as eleiçons puramente estilísticas. Patiño nom só carece, aparentemente, das preocupaçons políticas dum James Benning, senom tamém da sua paciência. A sequência anterior ao título, com toda a sua fermosura (Patiño exibe-a como obra independente em Ecos del bosque), teria umha maior carga ética, política e estilística se a reduzisse a um único plano. O mesmo pode dizer-se da subida ao Monte Pindo. O cineasta semelha ter medo a dispor da duraçom como dimensom concreta e de cansar ao seu público e rompe as seqüências em planos de duraçons variadas e arbitrárias. (Mas só o que requere um esforço na sala acaba permanecendo no pensamento.)
O resultado desta falta de rigor é um castrapo estilístico que se achega ao esteticismo reaccionário de Sokurov. Carentes de diálogos, as peças breves de Patiño resultam mais atractivas —tamém mais “museizáveis”—. Duas delas surgem de Costa da Morte: a mencionada Ecos del bosque e umha peça, La imagen arde, que ralentiza e estira um dos planos do incêndio até acadar a meia hora de duraçom (cumha valentia formal da que carece Costa da Morte; note-se, porém, o cámbio de registro lingüístico, que nos confirma que o único título em galego de Patiño, Costa da Morte, nom é tal, senom a simples utilizaçom do nome próprio dumha bisbarra).
A Costa da Morte “falta-lhe alma”, di-me um espectador tras umha projecçom em Noia. “Bem se nota que o autor nom vive na Costa da Morte”, comenta outro. Baleira de contido histórico-político (as referências aos guerrilheiros anti-franquistas agachados no Monte Pindo volvem-se tam anecdóticas como o conto do carregamento de leite condensado, proveniente dum naufrágio, co que a gente calea as casas), a película fica reduzida a um cartom postal. Esta diglóssia estilística é um reflexo documental, esta vez si, da eterna diglóssia do cinema galego, espanholizado e espanholizante. Em España insólita aparece um grupo de gaiteiras. Os seus instrumentos estám decorados coas cores da bandeira de Espanha. Esta espanholizaçom de algo tam propriamente galego tem o seu reflexo na língua forçada, espanholizada, de Costa da Morte, que se converte assi em Cuesta de la Muerte ao seu pesar.
Unha reflexión moi atinada a de Alberte Pagán. Concordo ao 100%.
ResponderEliminarDe acordo!!
ResponderEliminarozú
ResponderEliminarMoi de acordo. O único que non comparto é a interpretación das eivas da pelicula a partires do concepto de diglosia (e do marco teórico que o inclúe). Se o filme recollera a lingua habitual das persoas participantes, sería menos malo, pero seguiría sendo reaccionario. A clave non é que os galegos-mapuches deban ser retratados na súa lingua, e non na imperial, por un etnógrafo consciente, que asuma as escollas estéticas e políticas derivadas diso. O verdadeiro problema do filme é un esencialismo superficial declarado dende a cita que o abre. E dese problema (neste caso, sen adxectivo) tamén participa, creo, aquela interpretación.
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ResponderEliminar"Nun entrar do home na paisaxe e da paisaxe no home creouse a vida eterna de Galiza”. Con esa premisa, Costa da Morte pode recrearse en presentar unha terra sempre igual a si mesma a través dos seus cambios, cunha serie de atributos esenciais (no filme, un catálogo de clixés actualizados por vía estetizante). Esta visión está ben para contentar a un tipo de galeguismo, e en xeral a unha concepción da realidade social e cultural, que seguen sendo hexemónicos. Pero ¿pódese impugnar esa visión dende unha análise expresada en termos tamén esenciais? ¿Dunha análise que, se cadra, daría carta de natureza a un retrato como o que Costa da Morte propón para o país, con que tan só respectara os seus verdadeiros atributos, como a lingua propia?
ResponderEliminarCerto todo. Como que tamén é certo que ese "retrato honesto do país" se mantén, por paradoxal que pareza, porque o auotoodio e o desleixo que nós mesmos sentimos pola lingua propia acaba asomando tamén aquí. En conclusión, o suposto retrato non resulta ser tan falso.
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