mércores, 13 de xuño de 2012

Balaou (Gonçalo Tocha, 2007)

O director Gonçalo Tocha visita estes días o Centro Galego de Artes da Imaxe para presentar os seus filmes, no marco do ciclo Cinema portugués, hipóteses para un futuro comisariado por Rui Pereira (da Zero em comportamento, codirector do Indielisboa). Mañá xoves 14 presentará no CGAI ás 20:00 a multipremiada longametraxe documental É na Terra não é na Lua, e antes, hoxe mércores ás 20:30, poderemos ver Balaou. Este é un pequeno texto que sobre o filme escribín hai cinco anos, por mor da súa proxección no Doc's Kingdom.
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Foi preciso voltar para compreender. Sete meses depois da morte de sua mãe, o cineasta e músico lisboeta Gonçalo Tocha retornou aos Açores para reencontrar-se com suas raízes. Também para dar resposta a perguntas que talvez nem sequer sabia expressar com palavras. Uma pequena câmara serviu-lhe para registrar os encontros e as despedidas, as conversas e os silêncios. Com uma câmara escreveu, à maneira de diário, seus sentimentos mais íntimos, sua busca de conhecimento.

A idosa tia-avó está cansada de viver. Noventa e um anos, já é muito, diz. É tempo demais. O mau de ficar é suportar a ausência daqueles que já se foram antes. A dor passa, mas é impossível de esquecer o vazio. Não falo só de um vazio emocional, falo também do espaço físico. Os objetos. As presenças. Tudo o que ocupamos quando estamos vivos, quando existimos. Tudo o que levamos connosco. Tudo quanto permanece e que depois já não faz sentido. A tia-avó prefere que a câmara não continue a gravar: É melhor apagar. Fala, mas é como se não estivesse aqui. Parte dela já se foi também.

O realizador volta ao mar da infância para fazer o mesmo percurso que tantas outras vezes. É um retorno iniciático e libertador, depois do sofrimento intenso dos primeiros momentos. A ferida já cicatrizou e agora a intenção é outra: quer prender para sempre um mundo que é inevitavelmente seu. Não se trata de resolver grandes questões, basta olhar. «Quero saber o que é olhar através de ti», afirma. A família cresce com novos membros e a vida vai passando, sem bússola que nos indique o caminho certo. Mas o caminho sempre aparece. Um casal francês que leva vários anos viajando a bordo de um veleiro, o Balaou, convida o realizador para acompanhá-los de volta ao continente. Gonçalo aceita a proposta de Florence e "Beru", e avança com eles em direção de Lisboa numa viagem imprevisível, à mercê do vento; uma viagem catártica que remexerá mente e corpo num caminho de aprendizagens e de emoções, de sentimentos e intimidades partilhadas. Durante esses dias no mar as coisas decorrem de outra maneira. Na rádio escutam-se toda a espécie de notícias, mas as únicas que verdadeiramente importam são aquelas que anunciam o estado do céu. Não é que não sejamos sensíveis, explica Beru, mas é quase tudo sempre a mesma coisa, enquanto que a meteorologia muda todos os dias. Digamo-lo mais uma vez: foi preciso voltar para compreender.

A voz em off transporta-nos e deslumbra-nos pela genuína beleza literária dos textos recitados, que possuem a formosura de um poema. Um poema interrompido e aberto, inçado de elisões e de espaços para preencher. E para isso estão as imagens. As de Balaou constituem um luminoso canto ao mar e ao céu, imbuído do assombro inevitável ante essa beleza colossal que nos deixa feridos para sempre, e também são o retrato intimista de uma tranformação. Jogando com diferentes texturas de imagem e combinando os planos fixos formosamente longos com a urgência da câmara em mão, Gonçalo Tocha experimenta, arrisca e triunfa: seu filme é um acto de afirmação vital e cinematográfica, um trabalho honesto cheio de verdade em todos seus planos.

Martin Pawley

2 comentarios:

  1. Ao contrario do señor "infumable", a´parte que máis me gustou da película foi a da viaxe de retorno. Non é o caso, pero esa parella que navega solitaria trae de volta a casa a un rapaz magoado pola perda da nai como se fose un náufrago atopado a deriva. Apenas vemos o rostro de Gonzalo pero é a del a preseza que nos doe e que nos mira. Eu si creo que Gonzalo se sintou morrer metido nas tripas dese barco... Mais se hoxe somos nós os que ollamos a viaxe do Balaou nas pantallas do cinema, non é só porque a viaxe rematou felizmente, senón (e sobre todo) porque o noso náufrago é un creador.

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  2. Marabilloso diario filmico o que vimos onte no CGAI durante tres horas, É NA TERRA... Un tempo que parece suspendido no asombro da nosa mirada, pegada a un fío de lá. A señora Inés é o punto de equilibrio no funambulismo das imaxes que se van e se van… como se vai a espuma branca das olas e a espuma branca do leite morno recén muxido.
    Mais cando Gonzalo nos mostra como a gran mentira do progreso se agudiza, só vemos a prolongación do que somos… pobos á deriva nun delirio permanente de consumo. Un home di “en Europa xa non queda nada, xa ó queimamos todo”. Certo.
    Pero ao remate do documental unha auténtica gorra corviña (dark blue) aparece na pantalla (e tamén fora) como símbolo do poder do coñecemento, e da arte do cinema. Foi preciso que a señora Inês cortase o fío de lá para ficar con nós para sempre. Boa viaxe, meu capitán.

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