xoves, 22 de outubro de 2015

Carta a Xurxo

Diario de un corto (Flavia de la Fuente, 2015)

Xurxo querido,

Es difícil escribir después de recibir una carta tan bella como la que me enviaste. Me emocionó tanto que me dio un bloqueo parecido al que me produjo el encargo del Diario de un corto. Así que debería ahora escribir el “Diario de una carta”, que empieza así.

21 de octubre

Ni una idea asomó por mi cabeza. Solo atiné a mirar una y otra vez tu postal de Gran Hotel y tu texto y quedar muda.

22 de octubre

Decidida a cumplir con mi deber, nadé 15 minutos en el mar, rogándole a Neptuno que me diera coraje. Y creo que un poco me lo dio. Él nunca me falla.

Como bien decís, los dos estamos solos, vos en el medio del Atlántico, y yo en el borde, pero también muy sola, en un pueblo donde no hay nada de nada. Por eso, todo este año tu compañía tanto en Las Palmas como por e-mail fue un impulso fundamental para mí. Si no hubiera visto Gran Hotel, no sé qué habría pasado con mi película. El ímpetu creador que irradian tu correspondencia y tu cine es maravilloso. Cada carta que me enviaste venía no solo con ayudas técnicas sino con muestras de tu pasión por filmar, que se hace contagiosa y me ayudaba a salir de casa corriendo a trabajar.

Me encanta la idea de que den nuestras películas juntas, porque la mía se pudo hacer gracias al empujón que me diste con Gran Hotel. Y también gracias a la nueva cámara que me acompañaste a comprar en Las Palmas, y me enseñaste a usar por correspondencia.

¿Cómo era la vida sin Xurxo?, me pregunto después de este año de intensa relación epistolar. Era mucho más solitaria y triste.

Y ahora que Martin Pawley me aceptó como cineasta gallega, me siento aun mucho mejor. No saben lo bien que me hace pertenecer a ese grupo. No sé si se dan cuenta, pero ustedes tienen un desinterés y una alegría por el cine que no encuentro en la Argentina. Para ustedes, el cine no es un trabajo sino una aventura. No hablan de dinero, solo van y lo hacen. De este lado del océano esto no se ve con frecuencia. Es más, a muy poca gente le interesan las películas que no cuestan dinero.

Como esto es un diario, les cuento que ahora va a venir Quintín a leer esta carta y le va a parecer muy larga y farragosa. Pero, como muchas cosas en la vida, entre los dos, la mejoraremos y te la enviaré hoy mismo con todo el cariño y agradecimiento del mundo.

22 de octubre, un poco más tarde

Quintín leyó la carta y no le pareció farragosa, pero sí larga. Como siempre, se asombró de que escriba tanto en tan poco tiempo. Lo que no sabe, aunque después de 30 años de matrimonio debería intuirlo, es que desde hace dos días solo pienso en esto.

Cariños y todo mi agradecimiento desde San Clemente,

Flavia

mércores, 21 de outubro de 2015

Carta a Flavia

Gran Hotel (Xurxo Chirro, 2015)

Queridísima Flavia:

Soy un afortunado por hacerme confidente de tus inquietudes y búsquedas cinematográficas. La verdad es que me identifico mucho con tu trabajo, creo que pertenecemos a una misma estirpe. Algunos la denominan como "amateur" pero el calificativo no me incomoda porque creo que nuestra mayor plusvalía es el amor con el que hacemos las cosas.

Ahora estoy en medio del Atlántico pero no me hace falta subir a ningún volcán para verte. Siempre estarás ahí, siempre presente, como la silueta del Gran Hotel.

Saudade.

Xurxo Chirro

* * * * *

Nota: Diario de un corto de Flavia de la Fuente foi o filme inaugural do FIC Valdivia 2015 e verase nuns días en Mar del Plata, onde terá lugar a estrea mundial de Gran Hotel de Xurxo Chirro. As dúas curtas irán da man en novembro en Cineuropa.

sábado, 17 de outubro de 2015

mércores, 14 de outubro de 2015

Um Dia Normal: entrevista a Sérgio B. Gomes

Hai meses saudamos con entusiasmo a publicación no sitio web do xornal Público do filme de 24 horas Um Dia Normal, que neste blog consideramos unha das propostas audiovisuais máis estimulantes de 2015. Conversamos hoxe co coordinador do proxecto, Sérgio B. Gomes, sobre a xénese e posta en marcha do mesmo.

No marco do obxectivo xeral de celebrar o 25º aniversario do xornal, como xorde o proxecto?
O planeamento da edição de aniversário do jornal foi lento e complicado. Era uma edição ambiciosa porque marcava, em primeiro lugar, um quarto de século de existência de um jornal em papel. Durante as eufóricas e confusas reuniões de brainstorming para esse momento, dia 5 de Março, houve várias sugestões para trabalhos online, mas quase sempre em complemento com os trabalhos que foram sendo pensados para a edição em papel. No Público Online não gostamos de andar a reboque de nada. Nem ficar dependentes das contingências de outros suportes. De maneira que, mal saímos da última reunião comecei a pensar em voz alta ao lado da directora, Bárbara Reis, e de um dos editores online, Hugo Daniel Sousa. Estava a pensar na palavra “tempo” e naquilo que poderia ser diferente (muito diferente) do que estamos habituados a ver online. Percebi que tinha de ser um trabalho de vídeo, porque o tempo aí não seria meramente descritivo (ou descrito) como aconteceria com a palavra numa reportagem de texto. O tempo é a natureza da imagem em movimento, é um factor determinante e omnipresente – um minuto é um tempo perfeito.
Começamos a falar em 12 reportagens vídeo, depois em 24, tantas quantas horas tem um dia. Mas pareceu-nos tudo deja vú, antiquado, ultrapassado. E perguntei: e se fizéssemos um vídeo por cada minuto de um dia? Quantos minutos tem um dia? 1440. Estávamos a um mês da edição. A Bárbara e o Hugo acharam a ideia uma bocado louca, impossível de pôr em prática por causa do tempo disponível. Tínhamos um mês para concretizar tudo. Achei possível e consultei a equipa Multimédia (webdesigners/developers, IT, vídeo). Não sei se pelo meu entusiasmo ou pela ideia muito ambiciosa, o certo é que todos disseram que sim, que era possível. Foi assim. E começámos logo a trabalhar.

Tivestes algún referente para definir o proxecto, tanto no seu deseño conceptual coma na súa presentación web final? Nos últimos anos acadaron un gran eco propostas tan diferentes entre si coma o The Clock de Christian Marclay ou as 24 Hours of Happy de Pharrell Williams...
Uma das iniciativas para comemorar os 25 anos do Público foi justamente trazer a Lisboa a peça de The Clock, de Marclay (esteve em exposição no Museu Colecção Berardo), mas confesso que na altura em que discutimos esta ideia eu nem sabia da existência desta obra. Conhecia o 24 Hours of Happy, de Pharrell Williams. Não pensei nele nas primeiras conversas sobre a ideia de Um Dia Normal. Mas depois, naturalmente, fomos tentar perceber como tinham resolvido uma série de questões técnicas que entretanto se  levantaram (peso do vídeo, navegação de umas horas para outras, qualidade da imagem...). Em termos conceptuais (ou editoriais, para ser mais rigoroso) não tivémos nenhum referente directo. No área do jornalismo - considero Um Dia Normal um trabalho de jornalismo, uma reportagem visual - não conheço nada semelhante.

Que prazos de tempo se manexaron para o deseño, desenvolvemento e finalización do “filme”?
Tivemos um mês para tudo – pensar, produzir, gravar vídeo e áudio, editar, cortar, montar, desenvolver, testar, implementar.

Como foi a produción e a gravación? Que pautas se seguiron para a gravación das imaxes?
Tentámos uma produção organizada nos primeiros quinze dias, mas depois mergulhámos no caos e percebemos que não teríamos tempo para controlar tudo. E por isso, aceitámos o improviso, a sensibilidade de cada um e a capacidade de encontrar momentos que encaixassem na nossa ideia de partida. Tínhamos uma equipa de vídeo de três pessoas (comigo a coordenar) a trabalhar em permanência na gravação um pouco por todo o país (cada saída para uma região podia durar no máximo três dias). À medida que fomos avançando, foram-se juntando outras pessoas individualmente (no Porto, nos Açores, em Lisboa...). Pedi que os planos fossem fixos e com som directo, que as cenas tivessem o máximo de genuidade. Tratava-se de olhar para o que nos rodeia e captar a marca do quotidiano. Mesmo os brutos deviam ser criteriosos (não filmar uma hora para escolher um minuto). Não tivemos uma preocupação de representatividade ou de quotas (de região, de profissões, de idades...). Aliás, qualquer pretensão deste tipo seria utópica. É impossível reproduzir visualmente todo o quotidiano, todo um país ou toda a geografia... Termos interiorizado uma série de impossibilidades deu-nos força para encontrar as possibilidades.

Entre os minutos deste “día normal” atopamos formas e actitudes moi diversas. Que criterios seguistes para “contar Portugal en 24 horas”?
Os exercícios unificadores num trabalho com esta magnitude e com o tempo que tivemos eram difíceis de concretizar. Tentámos alguns, mas não foram postos em prática. O que tentámos foi trazer notas visuais de reportagem, que podiam não ser necessariamente imagens chocantes, impactantes, noticiosas ou extraodinárias (o objectivo de partida era contrariar um pouco isto). Tentámos, acima de tudo, olhar para o que nos rodeia com o objectivo de retirar daí alguma marca de quotidiano de uma sociedade e de um país que se chama Portugal. A maior parte das pessoas que trabalharam ou contribuíram para Um Dia Normal eram jornalistas, mas houve pessoas com outras formações ou actividades (realizadores de cinema, documentaristas, webdesigners, infografistas, artistas...). Este facto fez com que as abordagens não fossem todas puramente jornalísticas ou mesmo, em alguns casos, puramente documentais. Temos, inclusive, imagens dos arquivos de alguns dos autores porque pensamos que essas imagens, o que guardamos, são parte importante da cultura visual em que estamos mergulhados.

Planos fixos de 1 minuto... a proposta entronca co documental-experimental contemporáneo, mesmo co cinema contemplativo. Houbo algún referente para a definición deses planos?
O jornalismo tem muito que aprender com a arte no campo da eficácia da mensagem ou mesmo na postura criativa. As regras com que se faz jornalismo são extraordinariamente dogmáticas e são raríssimos os exemplos de quem tenta abordagens alternativas para chegar à audiência. Como é evidente, os objectivos do jornalismo não passam exclusivamente por chegar a uma audiência (seja grande ou pequena), mas se os jornais não forem maleáveis e criativos, como poderão adaptar-se aos tempos revolucionários que vivemos com suportes, plataformas e formatos a mudarem todos os dias? No Público temos uma liberdade também cada vez mais rara que é a de pensar em voz alta. E uma vontade de experimentar (novos formatos, novas abordagens, novos suportes, novas maneiras de contar...). Um Dia Normal foi uma proposta radical e experimental (conceptual e editorialmente), que só avançou porque existe uma grande abertura de quem dirige o jornal em tentar abordagens diferentes da realidade ou da maneira de contar a realidade.
No campo do vídeo online há muito por fazer e parece-me que estamos muito presos à cultura visual e aos modos de produzir vídeo para televisão.
Os planos fixos pressupõem a ideia de um olhar atento, para dele retirar alguma coisa, uma nota de realidade, ou a evocação de uma ideia, de um traço. Um minuto é tempo suficiente (às vezes até demasiado) para, através da imagem vídeo em ambiente de ecrã online, olharmos atentamente. Esta estratégia formal pareceu-nos a mais próxima do que poderiam ser notas de reportagem num caderno (as comparações com a palavra e o papel estão sempre na nossa cabeça!), que lidam necessariamente com a observação da realidade e onde cabem a mais pura contemplação (da paisagem, do rosto, da geometria), a descrição (uma ferramenta essencial do jornalismo), a curiosidade e até um lado de memória e arquivo.
Conheço algum do trabalho de Sharon Lockhart (que aprecio muito), nomeadamente o projecto Pine Flat, que esteve no Museu do Chiado em Lisboa em 2007, e o vídeo Lunch Break (2008). Mas não houve nenhuma influência directa ao seu modo de conceptualizar a realidade.
Diria que a maior influência na definição de um rumo formal para Um Dia Normal terá sido o documentário vídeo na sua forma (e atitude) geralmente crua (despida de artifícios) de encarar a realidade.

Como foi a edición? Hai motivos, temas, lugares e personaxes que se repiten. Parece clara a intención de dotar o proxecto de certa narratividade.
Houve vários tipos de abordagens na edição. Em muitos casos, quem captava editava o seu próprio material. Este método resultava bem porque tornava mais rápida a escolha do “melhor minuto” em cada plano. Apenas uma pessoa impôs como regra gravar apenas um minuto por plano. Aqui, o único trabalho de edição era o da escolha do momento e o conteúdo do que gravar entre a realidade disponível, como se tratasse de uma edição anterior à captura de imagem e som.
Mas à medida que fomos avançando na junção das peças do puzzle, percebemos que havia vários planos da mesma cena que representavam um mínimo de estrutura narrativa e que podiam servir para pontuar todo o objecto com algo a que se pode chamar de avanço na história ou de visão de diferentes pontos de vista da mesma cena/ambiente. A inclusão destes momentos foi um dos aspectos mais discutidos entre a equipa. Havia quem estivesse contra por ser uma estratégia mais usada na ficção e havia quem estivesse a favor por ser uma forma de estimular a permanência no vídeo criando expectativa.

En todo documental hai trampas. Cales son as trampas confesábeis de Um Dia Normal?
Diria que as principais “armadilhas” são alguns vídeos autoreferenciais (do que estava à nossa volta - no trabalho, em casa), que o espectador dificilmente notará, e alguns vídeos onde existe um lado de encenação (os que foram feitos por um realizador de cinema). Há ainda planos onde a passagem do tempo é sublinhada (como se fosse hiper-realizada) através de planos de relógios, ampulhetas ou contagens decrescentes. Para além disso, não temos grandes armadilhas. Mas posso confessar também uma piada, também autoreferencial, que é o vídeo das 05h59, um plano de uma pesquisa no Google por “Empire Andy Warhol YouTube” que depois mostra parte do longuíssimo plano-sequência em câmara-lenta (8 horas e 5 minutos) que Warhol fez da torre do Empire State Building. Rimo-nos muito depois de termos filmado esse plano. Aconteceu numa altura em que havia na equipa um misto de desespero e profundo cansaço. Serviu para aliviar alguma tensão.

Um Dia Normal é un mosaico de microhistorias que compoñen un relato de Portugal a escala “macro”. A suma de feitos mínimos, anónimos, aparentemente banais, define o presente dun país. O filme non fala só de Portugal, senón de como se constrúe a historia (ou “unha historia”), minuto a minuto.
Tenho dúvidas de que algum dia um objecto vídeográfico e jornalístico-experimental como este sirva de referente para alguma coisa que esteja relacionada com história, no sentido mais académico da palavra. A partir de factos (depoimentos/testemunhos) o jornalismo tende a organizar as ideias ou as notas de uma reportagem numa linguagem facilmente compreensível e reconhecível. Um Dia Normal comete o “pecado” de olhar para o todo de uma maneira desorganizada e mais ou menos caótica e de o apresentar dessa forma, sem qualquer hierarquia e ao sabor dos gostos e dos interesses dos seus autores. É uma estratégia que parece contrariar as regras. E desta maneira a sua mais-valia fica talvez apenas ligada ao seu valor enquanto documento visual de um tempo, de 1440 pequenos tempos, que juntos representarão pouco mais do que “um grão de areia que desliza na história”. É uma estética da imagem baseada no documentarismo que procura o quotidiano, os “pequenos-nadas”. Esta abordagem não exclui a plasticidade, não para revelar ou procurar o belo mas para ajudar descrever o real, ou aquilo a que Jacques Prévert chamou “a beleza do sinistro”.

Parte da espectacularidade de Um Dia Normal radica en ser unha obra imposíbel de atinxir. Mesmo para o espectador que sexa capaz de ver, pouco a pouco, as 24 horas do filme, a sensación que prevalece é a de “mosaico mutante”, a cada minuto séguelle outro diferente. Ás veces desexaríamos ficar máis tempo contemplando unha imaxe, mais é substituída por outra, a seguinte. É unha maneira de facer explícito que “non podemos estar en todas partes ao mesmo tempo”. As imaxes “escápannos” e con elas lugares e xentes: por cada imaxe nova que vemos hai unha imaxe anterior que deixamos de ver. Fai pensar nos noticiarios dos Lumiere, as imaxes que descubrían o mundo ante os ollos dos primeiros espectadores de cinema.
A imagem tornou-se num dos grandes vícios das sociedades contemporâneas. A sua presença é endémica e vivemos num tempo em que a sua falta provoca ansiedade, stress, má-disposição e arrepios na espinha (queremos ver tudo, a todo o momento). Boa parte dos grandes negócios da internet, para falar apenas dos últimos dez anos, residem na partilha de imagens e no seu usufruto omnipresente e instantâneo (Facebook, YouTube, Instagram, Pinterest, Vine, Snapchat...). Quando decidimos partir para esta aventura, sabíamos que não podíamos abraçar o mundo. Sabíamos que não podíamos representar a totalidade do que quer que fosse. A limitação (no seu sentido mais lato) acabou por tornar-se um dos motores do trabalho. E a limitação do tempo de cada plano acabou por ser um dos exercícios mais estimulantes no momento do corte de planos e da montagem das 24 horas. Às vezes, o exercício era cortar o plano no seu momento mais alto, no seu mais estimulante ponto de vista (visual ou de conteúdo). Também tivemos sempre presente essa ideia de que o trabalho só iria ser absorvido parcialmente, aos bocados, de uma maneira errática ou “batoteira” (navegando através das setas de avançar ou recuar).
Mas até esse lado é interessante porque o trabalho se revelou linear, não assentando numa pirâmide (invertida ou não) de hierarquias definidas por leads, punchlines ou outra qualquer estratégia de construção narrativa – e quem acabou por determinar mais o que mostrar foi o momento do dia a que cada plano se refere: amanhecer, manhã, meio-dia, tarde, anoitecer, noite. Isto quer dizer, que qualquer momento pode ser um bom momento para entrar.
Por outro lado, a enorme quantidade de imagens de Um Dia Normal pressuporia sempre um lado descartável e rápido no momento do seu consumo. A pena pelo que acabou e a expectativa pelo que se segue é uma das forças deste objecto videográfico que, à sua maneira, acaba por ser viciante.

Um Dia Normal dá protagonismo ao individuo, a comunidade, os espazos e persoas que non soen aparecer nos medios. É unha proposta coral de xeografía humana que choca cun contexto actual onde todo fica sepultado aos grandes intereses (económicos, políticos). Cal é a lectura socio-política do filme?
Quisemos fugir a qualquer panfleto reivindicativo de identidade (nacional ou outra). Partimos de perguntas (infantis?) como: Se olharmos à nossa volta o que vemos? Entre o que vemos, o que pode representar o quotidiano, a passagem do tempo? O que pode representar um dia normal? Que pessoas e paisagens são representativas desse movimento dos dias?
Quisemos fugir também aquilo a que se convencionou chamar de “o país real” (muitas vezes retratado com clichés de país pobre, iletrado, tacanho...).
Quisemos fugir de uma manifestação marcadamente política  (aceitando, naturalmente, que tudo o que fazemos pode ter leituras políticas).
Mas, sim, procurámos o indivíduo e o individual, sem a preocupação de lhes dar aura ou espectacularidade .
Mais uma vez, tenho dúvidas de que se possa retirar deste Dia Normal algo de académico ou de historicamente muito relevante. Mas ao olhar agora para o resultado final, consigo encontrar traços que nos revelam e que nos projectam enquanto país e enquanto sociedade. São traços singelos, mas suficientemente perceptíveis para quem ficar atento.

O proxecto defende e explora a diversidade e a pluralidade de miradas que se opón á crecente parcialidade, dependencia e instrumentalización política que padecen os medios de comunicación. É Un Dia Normal, tamén, unha defensa/reivindicación do bo xornalismo?
Absolutamente!

Entrevista realizada por Xurxo González e Martin Pawley. Obrigadíssimo, Sérgio!